CD gravado em dupla com seu primo JEAN KIRCHOFF, produzido por NELCY VARGAS e lançado pela gravadora ACIT em 2004. Com praticamente cem por cento das letras e músicas da autoria de MIRO, o CD foi considerado pela crítica como referência no gênero, pela qualidade de seu conteúdo. Quase esgotado no mercado, ainda pode ser encontrado em algumas lojas.
Clique sobre o nome da música para saber mais sobre ela. Este espaço tem o objetivo de proporcionar aos interessados, com palavras do próprio autor, uma rápida ideia sobre o conteúdo das letras, desde o tema até o objetivo e/ou a intenção com que cada uma delas foi concebida.
01. Chegada
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Eu tenho a sede nos lábios;
De dores, a alma cheia;
Nos olhos, marejo ânsias de chegar!
Eu venho de muito longe,
De onde a fome campeia;
Não trago histórias bonitas p’ra contar!
Migrei de campo e sementes
Pr’a não mais ter que semear;
Herdei a sina inclemente
Dos que não têm pr’a plantar!
Segui os rastros deixados
Pelos que ousaram sonhar;
E os ossos dos desgarrados
Me diziam pr’a voltar!
REFRÃO
Voltei pr’a o berço da pampa;
De onde, um dia, parti!
Reconheci minha estampa
Em cada sanga daqui!
Meu zaino, quase cansado,
Fareja o chão da querência,
Juntando as forças que restam pr’a chegar!
Andei por terras estranhas,
Cinchando a sobrevivência,
Mas o que deixei aqui, não tem por lá!
Só trago versos tristonhos
Que a solidão faz cantar;
Na concha das mãos, os sonhos
Que ainda pude salvar!
Segui os rastros deixados
Pelos que ousaram sonhar;
E os ossos dos desgarrados
Me diziam pr’a voltar!
REFRÃO (bis)
.......
Foi composta e escrita em homenagem aos carreteiros de São Gabriel/RS, minha terra natal. Segundo dados da EMATER, lá pelo anos 90 ainda existiam cerca de 45 famílias que sobreviviam da venda de seus produtos cultivados no interior e comercializados na cidade, transportados em carretas puxadas a boi. Dados mais atualizados reduzem esse número para 30 famílias nos dias de hoje. Mas o número das que mantém carretas como tradição é bem maior.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Sonolento fim de tarde
De um retalho de verão;
Cascos que vieram de longe,
Martelando sobre o chão;
Pés descalços na poeira,
Marcas de calo na mão;
Lábios que juntam, sem pressa,
Fragmentos de canção:
REFRÃO
Vai carreta, vai!
Rodando, vai
Que o tempo é patrão.
Em cada roda que gira
Corta tiras deste chão!
Vai boiada , vai
Que há bocas que choram
Com fome de grão;
E da terra que o boi amassa
Vem a massa do meu pão.
E da terra que o boi amassa
Vem a massa do meu pão.
À noite, vem a saudade
Se chegar, branda e faceira;
Cantando frases perdidas
Da toada carreteira;
As mãos, num gesto de fada,
Torcendo vestes caseiras,
Penduram trapos de sonhos
Nos arames da porteira!
REFRÃO
Ainda a última brasa
Teima em ficar acordada
Queimando um resto de vida
Na fogueira já cansada,
Lá se vai o carreteiro,
Deixando, atrás, a toada
Escrita em letras de poeira
Pelos cascos da boiada!
REFRÃO........
Vai...! Vai...!
.......
03. Algo Estranho
(Letra: Miro Saldanha)
(Música: Jean Kirchoff)
Tem algo estranho no ar!
Nessa luz que vem do poente,
Nesses momentos que a gente
Tira um tempo pr’a pensar;
A noite estende o luar
Sobre a tarde que descansa
E a alma vira criança,
Sem ter medo de sonhar!
É essa ansiedade no peito,
Que aguça cada sentido
Quando um olhar proibido
Nos arranca os pés do chão,
E nos coloca na mão
A navalha do destino;
É um passo pr’a um desatino
Em nome de uma paixão.
REFRÃO
Tem algo estranho no ar!
A pampa já não tem graça!
E essa tristeza devassa
Se enlaça em todo o lugar!
Já não me importam receios
Nem falatórios alheios;
Eu quero afogar anseios
No brilho daquele olhar!
Tem algo estranho no ar!
Meu verso já não disfarça;
E o branco vôo das garças
Há muito não vejo mais!
Eu não quero crer, jamais,
Que o tempo nos enfraquece
E a força bruta esmorece
Em dois olhos de punhais!
Olhares são como cartas,
Prá quem tem vícios do jogo!
Sei que isso é brincar com fogo,
Mas preciso me queimar!
Tem algo estranho no ar
E é muito mais que amizades;
E eu penso barbaridades
Quando lembro aquele olhar!
REFRÃO
.........
04. Baile Campeiro
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Nos pagos da minha terra
O povo tem mais calor;
É fácil fazer amigos
E a vida tem mais valor;
Quando chega a primavera,
Que o campo rebenta em flor,
É tempo de armar cambichos
E os ventos falam de amor.
E quando tem baile campeiro
O dia tem outra cor,
A tarde se faz alegre
E a lida tem mais sabor;
A peonada guarda o laço,
Os bastos e o tirador,
E o mundo vira num rancho
Num fundo de corredor!
REFRÃO
E o gaiteiro não se apruma;
Num suador de fazê(r) espuma,
Meio torto nos arreios,
Só diz que “tá muito cheio!”;
E a gaita é uma mamangava,
Dessa preta que se encrava
No buraco dos esteios;
Dá um resmungo e um floreio;
E o Candinho já se solta;
Vai no canto e vem na volta
Com a Fermina tranco feio,
Bufando e mascando o freio,
Num passo de manga-larga,
Rachando o salão no meio!
Quem nasceu prá a lida bruta
Tem sina de peleador;
Segura os golpes da sorte
Com manhas de domador;
E quem tem sangue de gaúcho,
Tem sangue de payador;
Nasceu com o mapa no peito
E o jeito de laçador!
E quando tem baile campeiro
O dia tem outra cor,
A tarde se faz alegre
E a lida tem mais sabor;
A peonada guarda o laço,
Os bastos e o tirador,
E o mundo vira num rancho
Num fundo de corredor!
REFRÃO
É uma regravação do CD em dupla. Aborda o tema do homem do campo, jovem e impetuoso, que vem para a cidade em busca do sonho de uma vida melhor. Quando descobre a dura realidade debaixo das pontes, já não tem mais para onde voltar.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Olhei o mundo, do lombo do ruano,
E achei tão plano p’ra me segurar!
Quem tudo enxerga só não vê o engano!
Mil horizontes vinham me encontrar!
Tranquei minuanos no rancho tapera
E a primavera não me achou por lá;
Troquei por nada o que já pouco era
E o peão que eu era se mudou pra cá!
REFRÃO
Cortei as canhadas,
Venci as distâncias.
Na poeira da estrada,
Deixei as estâncias;
Na louca jornada
Buscando meu sonho de piá!
Achei outro mundo!
Peões em repontes
De olhos no fundo,
Debaixo de pontes;
Tornei a buscar horizontes,
Porém já não tenho
Prá onde voltar!
Fiz preces xucras, de cristão teatino,
Ao deus menino, que me há de escutar;
Prá que não sigam o meu desatino
Neste destino de ilusão sem par!
Daqui meu sonho volta, ao tranco largo,
Nas poucas horas que posso sonhar;
Juntando frases, num refrão amargo,
Que esta saudade me obriga a cantar!
REFRÃO (bis)
.......
06. Nem Só de Espinho
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Só quem batalha, nesta vida bruta,
Nessa labuta de ganhar o pão,
Acorda cedo, pula e vai à luta,
Pr’a que a batuta não caia no chão,
Sabe que cedo aprende quem escuta;
Nasceu biruta quem pensa que é leão!
Penso que a vida tem um outro lado;
Onde um cansado tem que achar pousada,
Tirar um tempo pra largá’ o machado
E andar um pouco ao longo da picada!
Fechar nos dedos um copo gelado
É bom pr’os calo’ e custa quase nada!
REFRÃO
Não é pecado se escolhê’ o caminho!
Nem só de espinho é feita a caminhada!
No fim do dia, eu mereço carinho,
Comida com molho e cerveja gelada!
Penso que a vida tem um outro lado;
Onde um cansado tem que achar pousada,
Tirar um tempo pra largá’ o machado
E andar um pouco ao longo da picada!
Fechar nos dedos um copo gelado
É bom pr’os calo’ e custa quase nada!
REFRÃO
.......
.......
Tudo o que eu gosto é de muito carinho,
Comida com molho e cerveja gelada!
.......
07. Prece à Pátria
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Rios, que marcam fronteiras!
Chão, que me viu nascer!
Á gua de ribanceira,
Mãe-pátria, do meu ser!
Pátria, mãe brasileira,
Ergue os olhos e vê...!
Quem leva tua bandeira,
De fome vai morrer!
REFRÃO
Pátria...! Terra...!
É tempo de dizer
Que a fome é como a guerra;
Mata sem ter porquê!
Na fria escuridão das madrugadas,
Morre quem nasceu do nada
E, como nada, vai morrer;
E, a cada novo olhar que perde o brilho,
É negado a mais um filho,
O direito de viver!
Quem olhava horizontes
Traz os olhos no chão;
Troca o suor das frontes
Pelo vazio das mãos!
Quantas mentiras nuas!
Tantas lutas em vão!
P’ra quem pede nas ruas,
Mais fácil dizer não!
REFRÃO
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08. Guilherminas
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Nos fins de tarde de verão do Catuçaba,
Se joga a “taba” junto à sombra do galpão;
E a vizinhança vem saudá’ os donos da casa;
Sorver de um mate, pr´a espantar a solidão!
Boca da noite, vêm chegando as Guilherminas;
São quatro chinas, da mais fina educação;
Alguém se lembra de chama’ o Miro gaiteiro;
E o entrevero faz subí’ poeira do chão!
REFRÃO
E, num baile de rancho de furar a bota,
Num fundo de grota, se aprende a dançá’;
Xirú queixo duro suando a melena
E juntando a morena pr’o lado de cá!
Lampeão “trimilico”, que nem pirilampo;
Eu chego e me acampo e não saio de lá!
Num forno de poeira, de brotá’ o sarampo,
Num fundo de campo é que é bom de bailá’!
E os bigodudos vêm chegando, de mansinho;
Devagarinho, vêm no rumo da função;
E o chinaredo se despenca dos barrancos;
Vem de tamanco e co’as crianças pela mão!
Um índio louco derruba o cabo do mango
Nos cinco frangos do poleiro do oitão;
E a mulherada se entrevera na cozinha,
Numa morrinha de fumaça e de carvão!
REFRÃO
........
E os bigodudos vêm chegando, de mansinho;
Devagarinho, vêm no rumo da função;
E o chinaredo se despenca dos barrancos;
Vem de tamanco e co’as crianças pela mão!
Um índio louco derruba o cabo do mango
Nos cinco frangos do poleiro do oitão;
E a mulherada se entrevera na cozinha,
Numa morrinha de fumaça e de carvão! –
REFRÃO (bis)
09. Na Alma do Nativismo
(Letra: Francisco Espenosse/Anderson Mireski)
(Música: J. Kirchoff)
Venho sovado de estrada,
Curtido de poeira e tempo;
Meio a cabresto do vento,
No lombo das madrugadas.
Na garupa do meu ruano,
Só o violão por parceria;
Pr’a duetar melodias
Com o sopro do minuano.
REFRÃO
E, num bordonear campeiro,
Faço honra à tradição;
Num canto de gratidão
À pampa que sou herdeiro;
Pois meu verso vem do campo,
Surrado das invernadas;
Na rima, traz irmanada
A pátria onde me acampo.
Entre mangueiras e tropas,
Campereada e chimarrão,
Do verso fiz a canção
Que a alma guarda e rebrota;
Pois, num canto de fronteira,
Trago nuances de aurora,
Sorvendo lendas de outrora
Que herdei da vida campeira.
REFRÃO (bis)
10. O Tranco do Chamamé
(Letra e Música: Miro Saldanha)
É um jogo a vida, se é bem vivida;
E, a cada partida, se aprende um pouco;
Precisa sorte e um santo forte,
Senão a morte nos leva os trocos.
Joguei amores, pensando em flores,
Porém, só dores pude colhê(r).
De tanto soco, eu vivo de troco
E só fiquei louco por chamamê!
REFRÃO
E, se um rosto liso me dá um sorriso,
Me bate o guizo e logo me agarro;
E um forte abraço marca o compasso,
Naquele passo de joão-de-barro.
Só vou-me embora, quando for hora;
E a luz da aurora e quem vai dizê(r);
Só vou pr'o banco depois de manco;
Eu gosto do tranco do chamamê!
Mulher bonita é um laço de fita
Que nos incita pr'o desatino!
Mas sou avesso ao que não conheço e
Não tenho preço no meu destino!
Eu não casei por medo da lei e,
Se assim fiquei, que se há de fazê(r)?
Me basta um gancho e um cheiro de rancho e
Já me desmancho num chamamê!
REFRÃO (bis)
11. Olhos de Estrelas
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Quem trás, da sina de andante,
Rebanhos de despedidas,
Já tem a alma curtida
Co’a marca da solidão;
Mas dois olhos de estrelas
Entraram na minha vida,
Como uma bala perdida
Se vai pr’a dentro do chão
Do peito rude de um peão!
Mas, quem tem força no braço,
Por certo, terá no peito;
Eu preciso dar um jeito
De domar meu coração;
Quem leva a vida nos tentos,
No bate cascos da estrada,
Não vai se prender, por nada,
No laço de uma paixão!
Tem que saber dizer não!
REFRÃO
Mas, quando me olhas co’esse olhar de apelo,
Me arrepia o pêlo, minha alma esfria;
E toda a coragem, que guardei com zelo,
Se transforma em covardia!
Se outros de cobiçam, minha pele arde;
Então, acho tarde pr’a partir; um dia,
Se outro te tocasse, deus me livre e guarde
Das loucuras que eu faria!
REFRÃO
Mas, quem tem força no braço,
Por certo, terá no peito;
Eu preciso dar um jeito
De domar meu coração;
Quem leva a vida nos tentos,
No bate cascos da estrada,
Não vai se prender, por nada,
No laço de uma paixão!
Tem que saber dizer não!
REFRÃO (bis)
12. Planalto e Pampa
(Homenagem a Lages/SC e região)
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Um grito cortou os ares;
Brotou de um peito de penas;
E, como um anjo emplumado,
Pousou a gralha morena.
Encontrou o chão lavrado
Por rosetas de chilenas
E semeou, por todo o lado,
Pinheirais, na terra buena!
REFRÃO
Gralha que planta o pinheiro,
Cavando o ventre do chão;
Peões que contam o dinheiro
Da labuta pelo pão;
Passado que se fez glória
Unindo povos irmãos;
Ritual que se fez história
No contar de cada peão!
Garrão de Brasil menino,
De geada, campo e relento;
Do quero-quero teatino
Cujo canto é um documento;
Planalto, Pampa e um destino,
Curtidos do mesmo vento,
Porque o mapa é um tento fino
Quando o laço é o sentimento!
REFRÃO
Canta, povo, essa cultura,
Com a força de tua garganta!
Que o cantar das almas puras
Vira prece pr´a quem canta;
Que o patrão mande fartura
Pr´a este Sul, que é terra santa;
Que, onde um bicho planta e colhe
Só não come quem não planta!
REFRÃO (bis)
......