Previsto para 2019, mas com o cronograma prejudicado pela pandemia e por outros fatores, o álbum DE PRÓPRIO PUNHO só chegou ao mercado no final de 2023.
Com temas que variam do cunho universal ao regional do Sul brasileiro, o álbum traz doze faixas de conteúdo abrangente, com a mesma pincelada crítica e o romantismo leve e realista que já fazem parte da impressão digital do autor.
Assim como todos os trabalhos anteriores, DE PRÓPRIO PUNHO é voltado para um público cuja interação com a música vai além dos bailes, e cuja percepção musical não se limita ao corpo, mas chega à alma.
Por fim, chego à conclusão de que não muito importam cronogramas quando apreciamos um trabalho que reitera o que é a obra do Miro: genuína e atemporal!!
Anderson Mireski (músico, letrista e compositor).
Clique sobre o nome da música para saber mais sobre ela. Este espaço tem o objetivo de proporcionar aos interessados, com palavras do próprio autor, uma rápida ideia sobre o conteúdo das letras, desde o tema até o objetivo e/ou a intenção com que cada uma delas foi concebida.
É uma letra simples, da linha de Perfil Gaúcho, porém com outro ritmo. É mais voltada para o público do Sul. Busca responder à clássica pergunta “de onde você é?”, feita a nós, gaúchos, geralmente motivada pelo nosso jeito e sotaque. Estejamos nós, onde estivermos, para responder basta que façamos frente para onde o sol se põe. À nossa esquerda teremos o Sul, e o nosso Rio Grande estará nessa direção.
Eu sou do lado sul do horizonte,
à esquerda de onde o sol se escondeu.
Sou grato pela sombra das pontes.
Bebo onde o gado bebeu.
Daí, o amor pela verdade
e esse orgulho sem vaidade que eu sempre tive
diante da história, que revive o grito de uma raça
no som que tapa de fumaça a boca dos fuzis.
É que, em mim, a chama se alimenta;
e, contra o tempo e as tormentas, continua viva
no puro cerne que sustenta arvore nativa:
Chão, Pátria e Raiz.
Refrão
Eu sou do lado sul do horizonte,
à esquerda de onde o sol se escondeu.
Sou grato pela sombra das pontes;
e bebo onde o gado bebeu.
Eu... eu... eu... trago a franqueza na fronte,
dádiva que herdei dos meus.
Eu ouço, na linguagem das fontes,
o brado do que não se rendeu.
Eu sou do lado sul do horizonte,
à esquerda de onde o sol se escondeu.
Sou grato pela sombra das pontes.
Bebo onde o gado bebeu.
E de onde eu trago esse legado
há muito mais pra ser contado, por muito que eu conte.
Porque ao Sul do horizonte, onde o sol se escondeu,
há tantos outros como eu, que se farão ouvir.
E a cada voz silenciada
frente ao sabre ou à geada, no rigor de julho,
outras mil de vozes, embargadas pelo mesmo orgulho,
hão de repetir:
Refrão (1 vez e ½)
A letra retrata a figura de um pai, pessoa simples, do interior, cujo conhecimento de religião não vai além de um Pai Nosso. Aflito, diante da difícil tarefa de educar seus filhos na cidade grande, ele entra pela primeira vez em uma igreja, relata a Deus seus medos e angústias e pede ajuda.
Senhor dos Céus e da terra, fonte do afeto mais puro!
Perdão, se só te procuro quando me encontro em desgraça!
Mas... reconduz nossa raça aos valores do início,
para que o teu sacrifício não tenha sido de graça!
Pai, vim conhecer tua morada,
me renovar na tua proteção.
Vim seguindo os teus passos pela estrada,
com alma no olhar, chapéu na mão.
Meu sangue tem o sangue dos caudilhos;
meu mundo foi o lombo de um cavalo!
Mas esse mundo novo é o dos meus filhos
e, sendo pai, bem sabes do que falo.
O homem, por ser livre, criou asas
e fez da liberdade uma prisão.
‘tá tudo errado Pai, caiu a casa!
Por isso eu vim te abrir meu coração.
Refrão
Me ajuda, Pai! quero criar meus filhos
do jeito que meu pai criou a mim!
Me ensina a vencer tantos empecilhos
e a acreditar no certo, até o fim!
Que a força da verdade ainda vale
do jeito que valia lá, de onde eu vim!
Pois temo que meu filho, um dia, fale:
verdades mudam, pai, não é assim!
.................
Tentei falar do amor e do respeito;
do tempo em que se amava uma vez só;
disseram que revisse os meus conceitos
pois tudo o que está velho vira pó.
Vejo meninas moças se vendendo,
já cegas pelo brilho dos anéis!
Casamentos de amigos se perdendo
jogados pelo ralo dos motéis!
Não deixa, Pai, que caiam os pilares;
os poucos que ainda estão de pé!
Lá fora, a droga ronda nossos lares;
e eu vim aqui pra não perder a fé!
Refrão
O tema aborda a individualidade da trajetória de cada ser humano na vida. Se nós pudéssemos, e quem é pai ou mãe sabe disso, nós protegeríamos nossos filhos durante toda sua vida, correríamos os seus riscos e até sofreríamos as suas quedas. Mas a vida é perfeita, e existe um ponto nela a partir do qual cada ser humano tem de trilhar a sua própria estrada, escrever a sua biografia e assiná-la de próprio punho. A história de cada um é única, individual e intransferível.
É lindo nosso início a esbanjar as horas,
muito embora o que os mais velhos contem.
Só vivências no olhar do agora
lançam luz sobre a visão do ontem.
O velho e sábio tempo, o mais antigo andante,
de ponto em ponto adiante, em nossa caminhada,
convida a olhar pra trás; para o traçado errante
das nossas pegadas.
REFRÃO
Porém a gente escreve a vida, sem dar conta
que o tempo nos desconta o trecho mal vivido;
e cada um de nós terá de prestar contas
se apresentar, no fim, um livro sem sentido.
Se não pode um pai viver a vida do seu filho
e nem os empecilhos de sua trajetória,
é pra que o filho faça, do seu próprio trilho,
sua história.
Cada um faz sua própria estrada,
desde a hora dada em que abandona o seio.
Não dá pra consertar degraus de outra escada
e nem sofrer o tombo que é alheio.
Ninguém assina o texto de outro testemunho.
Do berço, vêm o cunho e o farol pra guia;
mas cada um escreve, do seu próprio punho,
sua biografia.
REFRÃO
Porém a gente escreve a vida, sem dar conta ...
... sua história. Sua história.
Lado a Lado toca no desgaste natural que o tempo traz aos relacionamentos entre os casais. Talvez por ser a alma feminina mais sensível, a experiência mostra que é comum surgir, principalmente na mente da esposa ou companheira e após um certo tempo de vida juntos, a conscientização de que o tempo está passando, que a juventude se está consumindo e que o relacionamento não é mais o mesmo. A situação criada na letra de Lado a Lado tem um certo romantismo, mas sem exageros, demonstrando a importância do diálogo e do apoio do parceiro nesses momentos de crise.
Eu notei algo errado no céu dos teus olhos um tanto arredios.
Cogitei quem teria trocado as estrelas por tantos vazios.
Perguntei; precisava saber o motivo desse olhar aflito assim.
Provoquei porque sei que, pra a alma, o silêncio é pior do que o grito.
Mas, enfim,
se os acertos já não somam os mates cevados ao longo dos anos,
e um aperto tem calado essa hora que outrora era cheia de planos,
tem conserto? Se nós dois enfrentarmos a crise de forma madura, sim.
Desacertos são apenas sintomas de um mal que ainda tem cura.
Vai por mim.
Refrão:
Somos, dois na jornada;
anjos andarilhos cujos filhos dos filhos, folhando o passado,
hão de ver velhas fotos; nós dois de mãos dadas,
e as nossas pegadas nos rastros deixados;
lado a lado!
Quantos trechos nós passamos de mãos enlaçadas, na força da prece,
e o desfecho nos mostrou que não há dor eterna nem mal que não cesse.
Foste o eixo em que todo o meu mundo girou, e me eu tornei mais forte em ti.
Não me queixo. Cá estamos de pé, mão na mão, de olhos firmes no norte. Aprendi
que, da semente, não é fácil colher cada sonho, por mais que pareça.
E, de repente, essa coisa do tempo passando te mexe a cabeça.
Mas, aos valentes, é negado o descanso da espada, e a luta não para aí.
Olha em frente!
Vê que a vida é um combate pra dois, quando um cai outro ampara.
Estou aqui!
Refrão: (Bis)
Somos, dois na jornada;
anjos andarilhos cujos filhos dos filhos, folhando o passado,
hão de ver velhas fotos; nós dois de mãos dadas,
e as nossas pegadas nos rastros deixados;
lado a lado!
A faixa guardiões é diretamente voltada para a região gaúcha das Missões. Metaforicamente, a letra compara as ruínas dos templos missioneiros às figuras de guardiões da história e do drama vivido naquelas plagas nos tempos das guerras jesuíticas.
Motivos silentes, mudos guardiões;
Símbolo imponente das velhas missões.
Foram-se pilares e altares, mas não a imponência.
Se hoje não mais catedrais, sempre resistência.
Guardam das chacinas, as ruínas, e o sangue dos bravos
pra que hoje o relato dos fatos, não fale de escravos.
REFRÃO
Sobre as escrituras que a história legou,
sangram as gravuras que a lança riscou.
Mas quando o sol descampa, negaceando a barra,
renasce tua estampa na voz das guitarras.
E é sobre a saliva, nociva, de algozes distantes,
que a cepa nativa está viva
mais forte que antes.
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Por vezes ilude, a quietude, no tempo fugaz.
É a dor do remoto nas fotos das lentes da paz.
Mas vultos guerreiros, pioneiros, que habitam mortalhas,
cavalgam no vento ao relento, em loucas batalhas;
marcando as retinas e as ruínas com o sangue dos bravos,
pra que hoje o relato dos fatos não fale de escravos.
REFRÃO
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O tema aborda um tardio despertar daquela impetuosidade característica da juventude, que nos impede de ver e valorizar todo o esforço de nossas raízes para que cheguemos a algum lugar, sobrevivendo em meio a uma sociedade sem rumo que eles já previam.
Dei-me conta
que os meus velhos sabiam de coisas no tempo e no espaço.
Já falavam da fome de afeto e carência de abraço;
e de milhões recontando fracassos sem ter pra onde ir.
Mas, reza a lenda,
tronco novo não pensa no corte nem lê cicatrizes.
Só depois que subiu se dá conta das próprias raízes,
que lhe deram a seiva e o amparo pra vê-lo subir.
Nem notamos
quanta força das águas passadas nos move o moinho.
Se hoje olhamos o mundo de frente, peleando sozinhos,
é de lá que nos vem a coragem pra não desistir.
REFRÃO
As raízes,
em silêncio, nos clamam a volta para o rumo certo;
pra que a criança, que corre sorrindo de braços abertos,
possa encontrar o seu porto seguro no colo dos pais.
Nas raízes,
dorme a chama à espera de um sopro, pra acender a brasa
da esperança que aqueles que lutam voltarão pra casa,
quando tantos que hoje saíram não voltarão mais.
Dei-me conta
dos temores que havia na prece que minha mãe fazia;
e nas palavras, em tom de sermão, que o meu velho dizia,
recostado num banco de tábua ou na velha rede:
“Não te encantes
com a visão imponente do rio nem com a correnteza.
É a fonte que brota num fio que nos traz a pureza
e que, singela e humilde, nos basta pra matar a sede”.
Dei-me conta
quanta luz que havia em sua sábia visão do futuro.
Que, com todo o luzeiro, hoje em dia tá bem mais escuro
que a penumbra da luz do lampião entre as velhas paredes.
REFRÃO
É um tributo àqueles que lutaram na epopeia farroupilha, ressaltando o orgulho gaúcho por ter preservado toda a altivez de uma bandeira que já esteve em trapos e que, hoje íntegra, simboliza a história e a fé de um povo nos seus ideais.
Diz-se que quem monta em memórias não cruza porteiras
e apeia sobre as prateleiras dos velhos museus.
Mas quem nunca foi alicerce não chega a cumeeira.
E a lança que risca fronteiras conhece o que é seu.
Ninguém tem futuro de taura e passado de frouxo;
e a história dos do queixo roxo tá aí pra provar.
Quem vive temendo chifrada de touro que é mocho
mastiga o que jogam no cocho e se deixa explorar.
REFRÃO
Dizem que a nossa bandeira era feita de trapos
e que aquela estirpe de guapos não existe mais.
Mas olho os sinais que os antigos deixaram na estrada
e sigo, fiel às pegadas dos meus ancestrais.
Aceito, se o que me sobra for o que mereço.
A paz é um tesouro sem preço e eu não vou negar;
mas se é pra deitar nos pelegos engolindo sapo,
a velha bandeira de trapos volta a tremular.
Um povo demonstra valor a partir dos seus feitos.
E um bravo conquista o respeito por SUAS peleias.
Só quero aquilo que me cabe. Senão, não aceito.
Não fico sugando direitos por lutas alheias.
Um livre desenha, no tempo, a própria trajetória,
não vive mendigando glória de alheias bravuras.
Melhor que o silêncio da espera é o grito da vitória!
Melhor que folhar a história é estar na gravura.
REFRÃO
Dizem que a nossa bandeira era feita de trapos
e que aquela estirpe de guapos não existe mais.
Mas olho os sinais que os antigos deixaram na estrada
e sigo, fiel às pegadas dos meus ancestrais.
Aceito, se o que me sobra for o que mereço.
A paz é um tesouro sem preço e eu não vou negar;
mas se é pra deitar nos pelegos engolindo sapo,
a velha bandeira de trapos volta a tremular.
A velha bandeira de trapos volta a tremula
A velha bandeira de trapos volta a tremular.
A letra de A prova compara nossa trajetória terrena com uma prova objetiva, em que as opções são marcadas de acordo com a escolha de cada um. Não há opções a serem deixadas em branco, e as consequências, sucessos ou fracassos vividos são fruto dessas escolhas.
No dia em que eu cheguei, perdido, a este mundo incerto,
meu pai, com os braços abertos, gritou: é um menino!
E minha mãe, num sorriso sofrido, me abraçou, bem perto,
rezando pelo rumo certo para o meu destino.
No dia em que eu saí, meu pai me relembrou a cena
de quando Deus me deu a pena e me mostrou a linha.
E quis que eu preenchesse a prova da vida terrena,
onde o erro ou acerto da pena é escolha minha.
REFRÃO
Marque as escolhas nas linhas a seguir.
Não pule as folhas, pois não vão se repetir.
Cada jornada é um trecho pra escrever;
e os tombos na estrada são as chances de aprender
e agradecer.
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Eu sempre agradeço a Deus, a cada sol poente.
E busco estar bem consciente dos erros, que assumo.
Mas alguém, um dia, me falou e eu guardei na mente:
“teus pés são voltados pra a frente porque esse é teu rumo”.
Por isso, não choro fracassos, sigo e pago o preço;
mas tento um último arremesso, uma nova subida.
E quando, finalmente, alcanço o que acho que mereço,
eu lembro o texto do começo da prova da vida:
REFRÃO
Marque as escolhas nas linhas a seguir.
Não pule as folhas, pois não vão se repetir.
Cada jornada é um trecho pra escrever;
e os tombos na estrada são as chances de aprender
e agradecer.
A letra de Pedido é uma situação imaginária, em que o sujeito, por amar o lugar onde vive, sonha com a possibilidade de que o Criador lhe conceda a graça de nele permanecer após sua partida deste plano.
Ouvi dizer que o céu irá descer num raio incandescente.
E que virá, do bem, um derradeiro gene, que se fará semente.
Virão arados e o semeado brotará.
Não haverá mais guerra e a boa terra parirá.
Sempre que o sol levanta, nesta terra santa, eu penso nesse dia;
e me vem um pedido, meio descabido, meio fantasia:
e se Deus dissesse a quem viesse me buscar
que ouvisse minhas preces, e eu pudesse aqui ficar?
REFRÃO
Se o Criador, então, chegar à conclusão que eu mereci
as asas de algum anjo, o resto eu arranjo por aqui.
Aos olhos da rapina eu pedirei retina e vista boa;
e a luz, aos pirilampos, pra que eu veja os campos e as lagoas.
Quero ver a mãe-d´água recitando as mágoas que escreveu na areia;
e, à noite, o céu moreno molhar de sereno a perfeição das teias.
Ver o lajeado cheio, e a flor em meio aos matagais;
e o passaredo, em bando, pousar enfeitando os banhadais.
Eu quero ouvir a fonte e pedir que me conte das paixões vividas;
quero ensinar aos netos, que o silêncio é quieto porque escuta a vida;
olhar o pesqueiro, depois do aguaceiro que caiu;
e as borboletas brancas, na barranca do meu rio.
REFRÃO
Se o Criador, então, chegar à conclusão que eu mereci
as asas de algum anjo, o resto eu arranjo por aqui.
Aos olhos da rapina eu pedirei retina e vista boa;
e a luz, aos pirilampos, pra que eu veja os campos e as lagoas.
E a luz, aos pirilampos, pra que eu veja os campos e as lagoas.
É uma valsa dedicada às debutantes, retratando o carinho dos pais pela filha desde o nascimento até a dança da valsa na festa de quinze anos e além, exaltando a beleza de um ritual que está à beira da extinção na sociedade atual.
Naquele dia eterno, em que abriste as asas,
do casulo materno surgindo, viçosa,
de fotos tão felizes coloriu-se a casa;
misturando matizes, luz e tons de rosa.
Tal como a borboleta, na sua magia,
deixa a casca vazia e se faz colorida,
surge a menina moça, da noite pra o dia,
radiante de alegria e tão cheia da vida.
Refrão
Que o mundo te perceba, plena assim, tão linda,
enchendo de sorrisos tua noite de glória;
mas não machuque a doce menina que ainda
habita no teu peito e nas nossas memórias.
Eu guardo na lembrança teus primeiros passos,
seguindo as borboletas, correndo descalça.
Hoje, teu corpo leve mal toca meus braços,
tal como as borboletas, flutuando na valsa.
E quando teu eleito te levar embora,
pra te fazer senhora e viver ao teu lado,
queira Deus que esta mão, que te conduz agora,
te conduza na hora do altar sagrado.
Mas, se aquela lembrança que a foto amordaça
gritar que a vida passa e que o tempo amarela,
que, em cada borboleta, a alegria renasça
pra pousar na vidraça da tua janela.
Refrão
É uma letra alegre em ritmo de chamamé, falando do surgimento e do culto a esse ritmo oriundo das fronteiras platinas, incorporado à cultura brasileira desde o Sul até o Centro-Oeste, e esparramado mundo afora pelo povo gaúcho.
A pátria de onde eu venho, o mato onde eu lenho, é no fim do mapa.
É onde um índio guerreiro chegou primeiro e brigou no tapa.
O nosso jeito diz tudo e o conteúdo já vem na capa,
nesse sotaque nativo e no jeito altivo de gente guapa.
A nossa história não mente, já vem com a gente o sangue guerreiro.
Mas, quando o assunto é festa, de qualquer fresta sai um gaiteiro.
E aí que o chão se alisa, o corpo desliza e fica matreiro.
E o lanceiro abate a lança, levando a dança pra o mundo inteiro.
Refrão
Que venham moças bonitas
dos dois lados da fronteira!
Quem entra, segue o modelo
e faz rodopiar vestido e cabelo
num chamamé de levantar poeira
Dos grandes centros do mundo
ao rancho ou casa modesta,
aonde for escutado
esse trancão de zebu laçado,
é o povo do Sul quem tá dando a festa.
Na magia desse tranco eu arredo o banco e fico gigante;
quebro o passo só por graça, o pé ameaça e pisa lá adiante.
É onde a alma espairece e a gente esquece o que era importante;
onde um abraço pra dois convida o depois a sonhar durante.
Essa receita de amores combate as dores mais que morfina.
É uma mistura potente de sangue quente e adrenalina.
Já vem na medida certa; é uma descoberta da medicina
que deixa o corpo mais leve, o mundo prescreve e Rio Grande assina.
Refrão (bis)
Que venham moças bonitas
dos dois lados da fronteira!
Quem entra, segue o modelo
e faz rodopiar vestido e cabelo
num chamamé de levantar poeira.
Dos grandes centros do mundo
ao rancho ou casa modesta,
aonde for escutado
esse trancão de zebu laçado,
é o povo do Sul quem tá dando a festa.
Troncos chama a atenção para a importância e o legado de nossos troncos familiares, aqueles que nos deram a vida, a orientação e o sustento desde nosso início até que pudéssemos seguir nossa própria estrada. Fala também da lacuna que fica quando cai cada um deles, e da falta que fazem em nossas vidas. De certa forma, está conectada com A Voz das Raízes.
Os troncos são a base que tudo sustenta,
na fúria das tormentas, no medo do escuro.
Cada lado da estrada, uma voz que orienta,
uma mão que alimenta e nos mantém seguros.
E a vida escorre lenta, qual água de arroio,
levando trigo e joio, sem dizer pra onde;
até que nossas mãos já não acham apoio;
e aí, a gente chama e a voz não responde.
Refrão
Quando caem os troncos, ao peso dos anos,
quem fica amarga os danos, na alma ferida;
qual fruto caído ao sabor do vento,
fica perdido e, por um momento,
não faz sentido o curso da vida.
Mas a força da fé mostra a fonte aos sedentos.
E, aos que ficam, o alento pra viver seus lutos
e entender que os troncos só vão felizes
se a gente segue e lança raízes,
pra alimentar nossos próprios frutos.
X.X.X.X.X.X.X
E então, de mãos soltas pra escolher caminhos,
decidimos sozinhos, direita ou esquerda.
Vez por outra a saudade nos pede um tempinho
e a prece de carinho, pra lembrar as perdas.
E o rio do tempo arrasta a areia dos bancos;
e os de cabelos brancos lá se vão, sem pressa.
Mas quem olhar de perto as flores dos barrancos
entenderá que é certo e que a ordem é essa.
Refrão