Conforme anunciado, em setembro de 2009 chegou ao mercado o novo CD de MIRO SALDANHA, intitulado o RASTRO E A POEIRA.
Fiel ao estilo que caracteriza o autor mas sem perder a autenticidade típica do nosso homem campeiro, o disco inclui também os gaúchos enfronhados na vida urbana, identificando-se com as batalhas e problemas que cercam o dia-a-dia dos que vivem na cidade sem deixar de ser gaúchos. Os temas, abordados de forma simples mas realista, dão à música gaúcha uma nova roupagem para que possa ser entendida mesmo por aqueles que não são profundos conhecedores das lides campeiras.
Apesar disso, o conteúdo não foge à linhagem gaúcha sendo composto de ritmos como chamamé, toada, milonga, xote, vaneira, rasguido-doble e chamarrita, com letra e música do próprio Miro e com arranjos dele e do conceituadíssimo Nelcy Vargas.
Entre as composições, destaca-se "PRINCÍPIOS", que aborda o conflito do homem conservador frente às mudanças nos conceitos socias e os reflexos que essas mudanças têm nos relacionamentos e na família. Também merece destaque "CINCO LINHAS", justa homenagem a um pai de família assassinado durante um assalto ocorrido em 2006, vítima da falta de segurança que campeia impunemente nossas ruas apesar da pesada carga de impostos que pagamos. Por outro lado, a vaneira "PELOS CANTOS", o xote "TENTAÇÃO" e a chamarrita "NO RIO GRANDE TEM" estão entre as faixas responsáveis pelo aspecto mais alegre, tendo sido estrategicamente misturadas às composições de maior mensagem.
Para aqueles que apreciaram o CD UM CANTO MEU, lançado anteriormente, este trabalho é uma continuação ainda mais elaborada da proposta musical que já é marca registrada do autor, constituindo-se em uma excelente opção para os apreciadores da boa música.
Gravadora Vertical
Clique sobre o nome da música para saber mais sobre ela. Este espaço tem o objetivo de proporcionar aos interessados, com palavras do próprio autor, uma rápida ideia sobre o conteúdo das letras, desde o tema até o objetivo e/ou a intenção com que cada uma delas foi concebida.
É a música de trabalho do CD O RASTRO E A POEIRA, lançado em 2009. Aborda o nosso velho bairrismo gaúcho, mas de uma forma um pouco mais poética, sem fanfarronices. Já vivi fora do país e conheço bem a força com que esse sentimento aflora quando se está longe. Qualquer sinal, traço ou vestígio da nossa cultura, por pequeno que seja, nos aguça a saudade e o sentimento de amor pela terra.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Quem nasce na Pampa bruta já sabe a luta como será!
Quem dorme sobre um pelego não tem apego ao que o ouro dá!
Quem tem o corte pra a lida empurra a vida e sabe que Deus dará!
O que é bom já nasce feito e melhora um eito se nasceu lá!
REFRÃO
Ausente, fico sem jeito, me sinto feito pela metade!
São parte do meu retrato capão de mato, várzea e coxilha!
Só o vento de encontro ao rosto devolve o gosto da liberdade,
e eu volto a ser eu, inteiro, sentindo o cheiro da maçanilha!
Um velho ditado diz que quem é feliz já enriqueceu.
Numa mala de garupa cabe, num "upa", tudo o que é meu!
O que eu tenho não tem preço e eu agradeço tudo o que Deus me deu!
Não vim ao mundo por luxo e, sendo gaúcho, já sou mais eu!
REFRÃO
Eu tenho o perfil de um povo que mescla o novo e a tradição;
quem quiser me ver de perto, é o momento certo pra um chimarrão!
De longe, verá um estampa guardando a Pampa pra a nova geração;
com Deus do lado direito, o mapa no peito e o laço na mão!
REFRÃO (bis)
Aborda a crescente banalização dos relacionamentos entre os casais, sob a forma de uma proposta de namoro sério, em que um homem mais velho, criado dentro dos princípios conservadores, expõe seus sólidos pontos de vista a uma moça de formação liberal. É uma forma de dizer o que penso sobre o "ficar", que substituiu o antigo namorar, banalizando e tirando o encanto dos verdadeiros relacionamentos.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Moça, escuta um minuto e me olha de frente!
Eu tenho em caráter urgente o que vou te falar!
O brilho em meus olhos demonstra que são verdadeiras
as poucas palavras matreiras que eu tento juntar.
Começo é desfile de imagens, promessas vazias,
posturas que o dia-a-dia vai desmascarar;
por isso, é melhor me mostrar;
talvez pra parar por aqui
se, acaso, conceitos antigos não sirvam pra ti.
REFRÃO
Eu creio que a mãe amamenta e que o seio é pureza;
que o pai põe o pão sobre a mesa e retira o chapéu;
e que, enquanto existir Deus no céu
e um teto por sobre um casal,
o amor repetirá no tempo esse mesmo ritual!
E ainda que o mundo, girando, no abismo se jogue,
e o homem, sem rumo, se afogue em prazeres banais,
quando o sol, que fecunda os trigais,
voltar a deitar sobre a flor,
guitarras pontearão milongas pra falar do amor!
Que bom que a mulher, hoje em dia, apressou o passo
e ajuda a segurar os laços de uma relação!
Mas a ideia de casa e família virou sacrifício
e eu não vejo a rua e o vício como evolução.
Eu te quero, e não é pra brinquedo de casa e separa!
E é bom que quem olha na cara veja o coração!
Entendo que os tempos mudaram!
Porém, pelo sim, pelo não,
princípios resistem ao tempo e jamais mudarão.
REFRÃO
...guitarras pontearão milongas pra falar do amor!
Guitarras pontearão milongas pra falar do amor!
Nasceu de um começo de noite de outubro de 2005, início de primavera com prenúncios de verão, quando uma nuvem de vagalumes um tanto adiantados invadiu o campo em frente à minha casa. Aquela cena me trouxe uma ponta de saudade dos verões da minha infância. Passou, mas a imagem ficou e a música só foi escrita no ano seguinte, em 06 de março de 2006. Não é uma grande história, mas foi assim que surgiu VAGALUMES, uma das minhas preferidas.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Este ano, os vaga-lumes vieram cedo,
qual lanternas de brinquedo soltas pelo ar;
clareando a noite escura, pra espantar os medos
e enfeitando os arvoredos, quando tem luar.
Este ano, os vaga-lumes vieram cedo,
pelos campos e varzedos, a vagalumear.
Minha alma está pulsando na ponta dos dedos,
ponteando meus segredos pra quando eu voltar!
REFRÃO
Quero saudar os tropeiros, pelas tardes longas,
juntar os parceiros pra pontear milongas
ao pé dos braseiros, nas noites de lá!
Quero ensinar pra as sementes o que é saudade,
que a gente só entende quando chega a idade
e descobre que sente desde que era piá!
Quero rever os pesqueiros da velha lagoa;
descer o rio, de canoa, e ver onde vai dar;
matar sede de saudade bebendo água boa;
ver a garça quando voa e quando vai pousar!
Quero grilos e guitarras no mesmo queixume;
e as estrelas com ciúmes, vendo o céu no chão!
Depois, volto à velha luta, como de costume,
esperando os vaga-lumes pra mais um verão.
REFRÃO (bis)
É um tributo ao homem do campo, ao peão simples que nasce, cresce, vive e morre na lida de campo, sem grandes sonhos e sem tempo para sonhar. A letra retrata alguém com algum traço de desilusão amorosa e que, aos poucos, vai se dando conta de que nada restará para si, se não um laço, o rastro e a poeira. Essa música é o título do CD, que na capa mostra um laço sendo entregue de pai para filho.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Na lida bruta,
de sol, tropa e poeira,
vida e lutas
vêm na minha esteira;
sombra e aguada;
lenha pra fogueira,
ronda e toada
pra a estrela boieira.
REFRÃO
O amor é igual à mãe-d'água,
que adoça a voz quando mente;
depois, some noite adentro e
leva o coração da gente!
Saudade é um rastro de fogo
que vem co'a estrela cadente.
Mas quem canta o mal espanta,
e não há de ser diferente!
Quem segue os passos
da tropa estradeira
recebe um laço,
o rastro e a poeira,
a crença no abraço
da sorte matreira e
a força no braço
pra uma vida inteira!
REFRÃO (bis)
É uma chamarraita ligeira, que nasceu de uma brincadeira durante uma roda de mate, quando fui desafiado a fazer uma música toda com rimas terminando em "eira". Acabei perdendo a aposta, porque o trato era terminar a música antes que a chaleira chiasse. Ao todo, são quatorze rimas em “eira”.
Agradeço pelo interesse.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Eu fiz uma chamarra ligeira,
pra ver a brincadeira rolar;
é o tempo de chiar a chaleira
y la doi a quien la quiera bailar!
No tranco da batida certeira,
tem graxa na fogueira e luar;
tem gosto de comida caseira
e tem cheiro de poeira no ar!
REFRÃO
E o que, de bom, cruzar a fronteira,
peço que alguém me mande pra cá;
que eu quero me enrolar na bandeira
e levar o meu Rio Grande até lá!
que eu quero me enrolar na bandeira
e levar o meu Rio Grande até lá!
Aqui tem a morena faceira
andando pela beira do mar;
domingos de bailanta e carreira,
com gaita botoneira a roncar.
Setembro, vem a chama pioneira,
pra a festa galponeira incendiar;
a farra de tertúlia e vaneira
e a gana missioneira ao cantar!
REFRÃO
Aqui se acha festa campeira,
cultura brasileira pra dar,
carpeta, pra alegrar os calaveiras,
e serviço pra quem queira ficar;
churrasco, feito à nossa maneira,
carreta cantadeira a rodar
e amores que a guitarra manheira
não conta, nem que queira contar!
REFRÃO (bis)
Trata-se de uma história real, e foi escrita sob encomenda, a partir de uma carta que me foi dada para servir de base para a letra. A carta tem data de 1963, e foi escrita pelo pai para um filho que tinha saído de casa. O rancho do qual a letra fala existe até hoje, uma construção de estrutura monumental feita com pedras enormes, à margem da Lagoa dos Patos. Mesmo tendo sido escrita para um caso específico, a história se encaixa no caso de cada família cujo filho partiu.
Agradeço pelo Interesse.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
A vida ensina batendo e nos cobra o livro perdido,
pois todo o drama vivido é uma lição diferente;
e cada corte sofrido o tempo cose com arte
porém, quando um filho parte,
vai-se um pedaço da gente!
Ao sol da primavera eu levantei meu rancho;
meus trastes de andarilho, pendurei num gancho;
decidido a parar, lancei raízes.
E, aos poucos, do meu jeito, tudo foi se erguendo;
e olhar o que eu fazia, aos poucos foi fazendo
meus dias de labuta mais e mais felizes!
Um dia tu chegaste, pra minha alegria
e, em vão, eu te falei do muito que eu sabia
do pouco que se sabe aos verdes anos.
E, um dia, tu partiste, pra minha tristeza;
e a saudade ocupou o teu lugar à mesa
sem que ao menos pudesse te falar dos planos!
REFRÃO
Que o anjo dos caminheiros,
que nos assiste no adeus,
seja o fiel companheiro
de todos os dias teus;
que não te sintas sozinho;
teus passos também são meus;
que todos os teus caminhos
tenham as bênçãos de Deus!
Eu sei que da ilusão mundana nada sobra;
que o homem volta ao pó e fica sua obra
à mercê dos caprichos da memória!
Por isso te escrevi, meu filho, esta vontade
que conserves o rancho com dignidade,
pois cada pedra dele conta minha história!
Eu te espero na figueira (a sombra é sempre boa);
na garça que serena pousa na lagoa;
no poente que adormece a pampa nua.
E lá, na minha campa, onde o gado berra,
tu me leva nas mãos um pouco desta terra
e me mostra, em segredo, pra eu saber que é tua!
REFRÃO
É um xote divertido, cuja missão é alegrar o disco, abordando a situação engraçada e ao mesmo tempo embaraçosa pela qual quase todo o músico já passou nos dias de hoje, ao ser paquerado abertamente em uma ocasião altamente imprópria, ou seja, na frente da patroa.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Esse teu jeito de me olhar nos olhos,
jogando charme pra me encabular,
e ficar rodando no meio da pista,
isso dá na vista! Vai dar o que falar!
Esse teu jeito de mexer o corpo,
dançando solta pra me provocar,
molhando os lábios com a ponta da língua,
vai matando à míngua quem te cobiçar!
Está na cara que a coisa é comigo!
É evidente, não dá pra negar!
Pelos sorrisos de canto de boca,
se eu dormi de touca, vão me perguntar!
Já corri mundo, fui da pá virada!
Dei cabeçada até me encontrar,
e, logo agora que eu firmei o passo,
vem esse pedaço pra me atormentar?!
REFRÃO
Por isso eu digo sai pra lá, tentação,
que eu sou casado e quero continuar!
Senão, um dia, ainda perco a razão!
Não quero confusão,
por isso, é bom parar!
Tua atitude está chamando atenção
e já passou do sensual pra o vulgar!
É bom que ponha os pés de volta no chão,
que essa provocação já sei no que vai dar!
Dá meia volta e passa em minha frente!
Irreverente, quer me encarar.
Levanta o rosto, com ar de princesa,
e olha com firmeza, pra me desafiar!
Disfarço, como se não visse nada;
indignada, chega a suspirar!
Girando o corpo, faz subir a saia,
e eu fujo da raia e desvio o olhar!
Está na cara que a coisa é comigo!
É evidente, não dá pra negar!
Pelos sorrisos de canto de boca,
se eu dormi de touca, vão me perguntar!
Já corri mundo, fui da pá virada!
Dei cabeçada até me encontrar,
e, logo agora que eu firmei o passo,
vem esse pedaço pra me atormentar?!
REFRÃO (bis)
É uma letra levemente romântica, versando sobre esse renascer talvez biológico, talvez psicológico, que toma conta de cada ser vivo quando a primavera chega. Renovam-se os planos, renovam-se as esperanças, enfim, a vida se renova.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Se é inverno, morena, neste pago santo,
geada com seu manto cobre o pastiçal;
a manhã debruça no campo tordilho;
faz lembrar o brilho de um cartão postal.
Quando chega agosto, cara de vingança,
e o minuano lança folhas pelo ar,
me abrigo no rancho; e teu colo moreno
faz o frio ameno, no calor de um lar.
Mas se é primavera, se renova a luta
e esta lida bruta ganha outro sabor;
a vida se banha nas águas do açude
e o amor dos rudes vem nascer na flor.
REFRÃO
Morena, quando esta Pampa
já não ouvir meu cantar,
beirando o rio é onde eu quero morar!
E, quando o sol de setembro
tocar minh'alma de piá,
vou renascer no canto de um sabiá!
E lá vem setembro, na curva da estrada,
e a nova florada vem rasgando o chão;
a flor da amoreira quer que a vida adoce
e um sabiá, precoce, fala de verão.
Quando o sol nascente mostra sua figura
na simples moldura tosca de um portal,
a Pampa se enfeita pra uma nova etapa
neste fim de mapa, meu torrão natal.
O beijo da amada, o gosto da pitanga...
o olhar da sanga mostra o céu azul;
o gado dá cria e o rebanho expande
no grande Rio Grande que só tem no Sul.
REFRÃO (bis)
Mais uma vaneira simples, com letra leve, cuja missão é alegrar o disco. O tema aborda os bailes gaúchos.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Moça bonita, firma o passo e não te vira
que tem olhos te buscando,
e só tem bandido na mira!
Crê no que eu digo, que tudo o mais é mentira!
Deita a cabeça em meu peito
e te esquece que o mundo gira!
REFRÃO
Chega pra o canto, morena, sai da poeira,
que quanto mais pelos cantos
mais gostosa a brincadeira!
Afrouxa o corpo, que daqui em diante é ladeira
e o salão fica pequeno
no balanço da vaneira!
Tem certas coisas que quem pensa não começa,
mas quem começa não pensa
e descobre que é bom à beça!
Até pra santo o pecado se atravessa
e num ouvido perfumado
qualquer mudo se confessa!
REFRÃO
De hoje em diante, moro dentro desta peça;
do que eu gosto, aqui tem tudo
e não há motivo pra pressa!
Já rezei muito, fiz novena e mil promessas
pra ficar só com o gaiteiro
e umas dez morenas dessas!
REFRÃO
REFRÃO (bis)
Enfoca o fascínio que a grande cidade exerce sobre o jovem do interior que, no calor de sua juventude, é atraídopelos aparentes encantos das grandes avenidas, sem ver a realidade crua escondida nos becos e vielas.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Meu pai já me dizia essas verdades,
que o tempo vai domando as rebeldias.
De que valem conselhos, nessa idade,
se o mundo não nos enche as mãos vazias?
A juventude é um rio que nos arrasta,
embalando, nos sonhos, nossos dias;
e nem o horizonte, que se afasta,
já não basta
nem tem a dimensão das fantasias!
REFRÃO
Cidade grande é igual faca de corte
onde a mão do mais forte é quem chaireia;
é preciso ter raça e muita sorte,
nos momentos que a morte negaceia!
Assim, vou segurando a vida guapa
e, se o laço me escapa, a briga é feia!
Mas, o que é outro tombo ou mais um tapa
pra quem já vem no bojo da peleia?
De vez em quando, bate uma saudade;
só então nos lembramos das feridas.
Porém, já não depende de vontade,
já não temos a chave das saídas!
A frieza sem rosto da cidade
vai desumanizando nossas vidas;
e, assim, a gente perde a identidade! É verdade!
Vira boi, no curral das avenidas!
Mas, um dia, 0, 'inda volto pra o meu chão,
pra ver campo e clarão de lua cheia,
onde o povo tem alma de cigarra
e o tinir da guitarra 'tá na veia!
Até lá, eu seguro a vida guapa
e, se o laço me escapa, a briga é feia!
Mas, o que é outro tombo ou mais um tapa
pra quem já vem no bojo da peleia?
REFRÃO
À semelhança de No Bojo da Peleia, CONTAS também aborda o velho tema da troca do campo pelo concreto. Quem ler ou ouvir a letra com bastante atenção, perceberá que é uma conta, com sinais das quatro operações e termos usados em álgebra.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
Terra seca no coração
+ solidão e poeira
- fé + desilusão
= tentação, bobeira.
Vida nova ao sonho rural
+ vendaval urbano,
fim da conta e prova real
deu = engano.
REFRÃO
Quem já ouviu a cigarra
o meu canto entenderá;
por conta, diz a guitarra
o que minh'alma dirá.
Quem, pelo campo, fez tanto,
some as saudades de lá
e empreste a voz ao meu canto,
que eu trago o campo pra cá.
O concreto é cruel, assim!
É bem assim, covarde!
Quando a gente percebe o fim,
sei por mim, é tarde!
Soma o resto e divide o pão!
Pranto não, labuta!
Essa gente de "pé-no-chão"
não diz "não" sem luta!
REFRÃO (bis)
Aborda a história do assassinato de um amigo, uma das pessoas mais dóceis e de fino trato que conheci. Além de criticar diretamente o descaso do círculo profissional a que ele pertencia, a letra engloba também o "sistema", numa crítica intencional à inércia das autoridades, à ingerência da Igreja no planejamento familiar e à falta de segurança que campeia em nossas ruas, apesar da pesada carga de impostos que pagamos.
(Letra e Música: Miro Saldanha)
(Homenagem ao amigo ANTONIO C. C. DE MORAES,
que tombou heroicamente em defesa da família, em 30 Jul 06.)
Se a paz por que lutei virou passado,
se quem é livre há de viver trancado,
então deponho as armas e me rendo!
Se a ti já não importa o sangue derramado
quando, em tempo de paz, tomba um soldado,
já não és mais a Pátria que eu defendo!
Há faróis onde havia pirilampos;
retalharam-se os campos em quintais;
a vida faz o parto do problema
e o ventre do Sistema gera mais.
Um tiro e lá se foi mais um do bem!
Na terra de ninguém das capitais,
a lágrima de quem ficou sozinha
e apenas cinco linhas nos jornais!
REFRÃO
Nem salva de tiros, nem homens marchando,
nem sinos dobrando pelas catedrais!
Como que de esmola, de uma mão mesquinha,
ganhou cinco linhas em alguns jornais!
Só me diga, agora, Sistema sem rosto,
se a verba do imposto cobre os funerais;
se acaso é pecado defender a filha
e se um pai de família não valia mais!
A canastra, um poema, um disco antigo...
o lar... um velho amigo de jornada...
o perigo que espreita ali na esquina
e a vida que termina na calçada.
O dever de jamais fugir da luta
levou mais um recruta, Pátria Amada!
Nas ruas, vale o dedo no gatilho:
e a vida dos teus filhos vale nada.
REFRÃO (bis)
mais que cinco linhas
em alguns jornais!